terça-feira, 12 de novembro de 2013

Impossivelmente possível

Hoje foi um dia de silêncio, pelo menos interior. Se pudesse, não teria falado nada com ninguém. Aliás, entra na lista dos meus sonhos integrar algum "grupo maluco" no qual eu tenha de usar aquelas plaquinhas de "SILÊNCIO", que nos obriga a não falar quando queremos e nos desobriga de falar quando não queremos. Muito inteligente!

Nesse silêncio todo, dá pra pensar muita coisa, inclusive o trivial:

Não é possível que a vida seja só isto: trabalhar, gastar, receber, pagar, supermercados, locadoras, livrarias, filas, filhos, afilhados, amigos indo e vindo, e família estranhamente diminuindo e aumentando ao mesmo tempo.

Não é possível que existam pessoas que trabalham 8 horas e meia por dia esperando o relógio marcar 18h. Que trabalhem a semana inteira esperando a sexta (às 18h). Que olhem todo início de mês se felizmente haverá um feriado (às 18h da véspera). Que esperam o ano inteiro pelas férias (geralmente às 18h de uma sexta-feira, na qual não haverá motivos para não sorrir). A vida se enche de graça - de graça nada!!! Custou muito caro!

Não é possível que se viaje somente por meio de livros, filmes e das histórias dos outros. E, por falar neles, pouco podem fazer por nós se não esTIVERMOS a fim - AFINS.

Não é possível que a gente conheça um número tão pequeno de pessoas. Cinquenta no ensino fundamental (se você não trocou muito de turma). Mais o mesmo tanto no médio (se você não teve a sorte ou azar de ter os mesmos colegas de antes). Vizinhos, dependendo do quão nômade sua família foi. Alguns mais no(s) cursinho(s), nos trabalhos por onde se vai passando, nas lojas, na academia, na igreja, na facul e, claro, os amigos de amigos - bons demais ou chatos demais. Não importa! Pra mim, sempre será pouco.

Não é possível que se viva sendo quase sempre "quase". Ser sempre uma pessoa quase quase faz de você uma pessoa quase sempre inFELIZ.

Não é possível que se trabalhe tanto tempo no mesmo lugar. Depois de certo tempo, há algo ali pra se aprender ou a gente vai só desaprendendo ao se sentir confiante? Desconfio que não sei.

Não é possível que se espere a aposentadoria para estudar francês e música. Que se aguarde o dia mais apropriado pra visitar um velho amigo. Que os cabelos brancos ou a queda deles não signifique mais do que idade e tempo.

Não é possível que a gente se permita se sentir gorda enquanto come um sonho recheado, sentados em frente à TV. E que se sinta fracassada profissionalmente por estudar pouco, passando horas no Facebook.

Não é possível que a gente espere tanto tempo pra dizer que ama alguém que merece. Às vezes, a vida inteira. E, em contrapartida, diz EU TE AMO pra ficantes e simpatizantes. Sorte nossa que o amor é bem mais do que essas três palavras. É mais silencioso.

Não é possível que tenhamos mesmo de nos tornar pais pra entender nossos pais.

E o pior de tudo: é saber que não somente é possível, como é real, é triste, é paralisANTE, é irritANTE, estressANTE, vergonho... pra quebrar a sequência ANTE tantas repetições... De erros, reclames, situações, preocupações e poucas ações.

Se você também estiver se sentindo congelado no tempo; e, até pra correr, usa o sentido horário, se coloque no texto com sinceridade. Substitua os horários e dias da semana. Mude os hábitos, os sonhos, as coisas que pra você são impossivelmente possíveis. E mude. É possível. Comece por um dia de silêncio, pelo menos, interior.