domingo, 28 de agosto de 2011

Pode ser difícil, mas vale a pena...

Viver é nascer sem pai e encontrar um, de verdade, aos 7 e outro, de mentira, aos 13; embora a ciência me contrarie.

Viver é tomar café com leite pensando que é achocolatado, irresistível não escrever “Nescau”, mesmo preferindo “Toddy”. Marca que marca.

Viver é dançar sozinha e tão diferentemente desde os 3 anos - porém sem a roupa de lambada de bolinhas brancas.

Viver é guardar o chiclet do final de semana pra fazê-lo durar a semana inteira.

Viver é tomar banho de bacia como higiene e de tanque como diversão. E de chuva pra ver o arco-íris e brincar de vender o barro endurecido das poças, como se fosse chocolate.

Viver é não ter crianças com quem brincar. Aprender a ser sozinha.

Viver é pegar carona com o tio leiteiro pra ir à escola. E de carroça.

Viver é ter apenas uma amiga até a 8ª série. E amá-la até bem mais que o final do terceiro grau, mesmo longe dela desde o fim do Fundamental.

Viver é encontrar o “seu grande amor dos 15 anos” com uma piranha num comício com Matusa – a banda pra quem não sabe (ora! todo mundo sabe).

Viver é fazer um curso no fim de uma estrada de chão sem fim e saber que nunca vai usá-lo pra nada, só pra ficar com amigos e ouvir CPM 22 no busão.

Viver é fazer estágio longe e dormir entre formigas.

Viver é se achar mulher aos 17.

Viver é perder os sonhos cedo demais e ter alguém pra salvá-los.

Viver é fazer muita festa, é ter uma porção de amigos – e seguidores?

Viver é começar uma graduação sonhada. E conhecer aquela que será sua nova família por 4 anos, podendo se tornar parte das suas demais famílias posteriormente.

Viver é não ter dinheiro nem tempo, ter três empregos e dormir pouco.

Viver é ter pessoas que não acreditam no seu potencial. Elas nem sempre são ruins, apenas não querem que você se decepcione.

Viver é ter com quem contar. Amigos de todas as áreas e de todas as horas. Que sabem um pouco de tudo e que te abraçam mesmo não sabendo de nada.

Viver é experimentar coisas novas com amigos numa tarde ou noite de chuva daquela viagem tão planejada que nem a chuva consegue estragar.

Viver é lembrar-se de alguém a cada som de Cazuza, Legião e Engenheiros. E ter vontade de ligar pra pessoa ouvir também, sem ter de explicar aos outros o porquê de fazer isso.

Viver é largar o mundo inteiro pra ficar com aquela pessoa especial que vem da capital.

Viver é fazer tudo sempre na última hora. É virar madrugada terminando trabalho. É correr atrás do bus no dia da apresentação de seminário.

Viver é sair num dia de chuva, pegar mais de um ônibus e mudar todos os planos só para manter sua palavra.

Viver é ficar na casa de um amigo pra economizar tempo e dormir menos horas do que se tivesse voltado pra casa – e conversar de madrugada.

Viver é não entender por que você não viveu a década de 80.

Viver é ter, aos 25, LER, distúrbio de ansiedade, início de depressão e muita coisa pra fazer.

Viver é encontrar uma forma de se reerguer.

Viver é parar tudo por um tempo e redefinir as prioridades.

Viver é ter uma saudade que mata e não pode ser morta. – E isso dói.

Viver é ter medo da incerteza do amanhã.

Viver é pensar a longo e curto prazo. Ter planos A, B e C e saber contar com imprevistos.

Viver é estranho quando não se pensa em construir uma família.

Viver é odiar uma pessoa pelo o que ela é, e depois amá-la pelo mesmo motivo. Principalmente se ela for aquela prima mais bonita.

Viver é encontrar um grande amigo numa pessoa, até então, desconhecida. E, aí, tê-la como amigo ex tunc, embora pareça que seja até anterior ao encontro.

Viver bem é, obrigatoriamente, respeitar as diferenças.

Viver é ter uma alma gêmea que não será o homem com que você vai casar, afinal, ela é sua melhor amiga.

Viver é passar cada verão com pessoas diferentes. E entender que, já que vão acabar, as fases precisam ser aproveitadas.

Viver é não ser morna: ser quente ou fria.

Viver é não ficar em cima do muro e se posicionar mesmo que seja usando a inteligente – ou falsa, pra alguns – imparcialidade.

Viver é assumir que gosta de música sertaneja, é fã da Sandy (o conjunto dela é harmonioso) e que curte novelas e dramas.

Viver é saber que os conceitos de certo e errado variam de acordo com a mentalidade – de quem a tem (se tiver).

Viver é perdoar e, principalmente, se perdoar.

Viver é ter consciência de que, às vezes, vivemos mais para os outros do que para nós mesmos.

Viver é se fazer de vítima e procurar culpados. E cometer pecados.

Viver é aprender a valorizar o tempo sem criar rotina pra tudo.

Viver é amar, sem romancear tudo. Simplesmente se entregar ao que o amor pede.

Viver é, sobretudo, um grande presente ainda com cheiro de passado, mas com sede de futuro. E é preciso ceder pra vivê-lo.

Viver, pra mim, tem sido assim. Diferente do seu modo, mas você é parte do meu.


Dedico esse texto à insônia de ontem e a todas as pessoas que amo - mesmo.

terça-feira, 16 de agosto de 2011

Ser de verdade

Não são fáceis os momentos em que se tem tanto pra escrever, mas trava-se ao ver um cursor piscando.

Assim como não são fáceis os momentos em que a gente sabe o que tem de fazer, mas trava na hora de agir.

Poderia ser falta de coragem a semelhança entre esses dois momentos. Mas o primeiro poderia ser justificado com a tal falta da palavra certa. Até mesmo porque a coragem é mais necessária na fala do que na escrita - e, por isso, é tão fácil flertar na internet, leia-se: dizer coisas que você não conseguiria falar pessoalmente (antes que se pense que tenho esse hábito. E daí se tivesse!).

Pra mim, escrever nunca foi problema, embora eu já tenha passado por alguns bloqueios, como o de agora, à procura da palavra certa.

Com o “agir”, não: eu quase nunca soube fazê-lo espontaneamente. Sempre precisei daqueles empurrões básicos dos amigos ou de pessoas próximas e, preferencialmente, ligadas na parada... que a vida não pode permanecer.

Mas, de uns tempos pra cá, ando meio pra lá de Bagdá. Segurando minha escrita, escondendo as palavras certas – que estão longe de ser as mais polidas, delicadas ou adequadas. Toda essa questão de ser vista, “seguida”, “curtida”, lida e, obviamente, julgada, trouxeram-me um medo que eu nunca havia sentido. Não é bem um medo de me expor. É de mudar pra parecer quem não sou. Deixar de dizer o que me faz perder o sono. O que me tira do sério e, assim, me faz rir.

Pode parecer paranóia, afinal, minhas postagens pouco são lidas, mas, ainda assim, alguma coisa mudou e me deu uma vontade súbita de ser anônima pra ser eu novamente. É covardia? Ora, que seja. Seria um bom começo admitir isso pra quem quer voltar a ser de verdade.

É possível que se confunda o “ser de verdade” com o “ser verdadeira”. Basta, então, saber que o primeiro deles é substantivo e o outro um verbo. Enquanto um ser de mentira, eu conjugo a verdade. Estudo, trabalho, me relaciono, digo coisas: tudo de verdade, mesmo sendo alguém de mentira.

Ser mentiroso é uma coisa ruim para as pessoas com quem você convive. Ser de mentira é muito pior, porque há apenas um enganado: você mesmo.

Acontece que eu preciso respirar mais esse ar que me traz à tona; e fica difícil quando a sociedade começa a traçar padrões de politicamente correto, coisa que nunca acreditei existir, ideia na qual nunca me apoiei pra decidir meus passos.

No meio de tanta mentira, tanta corrupção, tantos erros, tantas puxadas de tapete, tantos maus exemplos, tem alguém querendo me dizer o que é certo, e eu acho que ele tá errado (estou tão pressionada que preciso explicar que o singular aqui é o plural de quem quiser usar o chapéu).

O cursor ainda fica piscando, quase que no ritmo que pulsa o coração quando estamos com medo.

Não sei se encontrei as palavras certas, mas, com certeza, ainda não encontrei a coragem necessária para ser. Esse verbo sempre fica pedindo predicativos: ser um bom filho, uma boa amiga, um bom profissional, uma boa companhia. Mas eu quero apenas o intransitivo: eu sou.

Não concordo com o: quem é de verdade sabe que é de mentira. Conheço muitas pessoas que são aquilo – tudo – mesmo e não sabem quem eu sou.

Fico, então, com o: quem é da verdade sabe quem é da mentira. Aí, até pode ser.

Eu sou.